Eu sempre me incomodei quando amigos ou colegas me chamavam de guerreira pelas minhas conquistas. Guerreira parece apropriado pela minha trajetória: saí de Salvador para ser a primeira mulher negra e nordestina contratada por uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Depois, fui transferida para a matriz, nos Estados Unidos, para liderar e ser responsável por uma região importante do negócio. De fato, eu vivi (e ainda vivo) em constante batalha, mas isso não deve ser celebrado de forma tão banal assim.
Foram inúmeras as ocasiões em que eu era a única mulher negra, nordestina e imigrante em uma reunião, e isso me trazia muita insegurança e uma sensação constante de síndrome de impostora, a ponto de muitas vezes não compartilhar minha opinião nesses fóruns. Entrava muda e saía calada. As decisões que eu tomava eram sempre muito pensadas e, consequentemente, mais demoradas, porque eu tinha medo de não dar o passo certo. Na minha situação, errar não era permitido, pois sempre tive que batalhar em dobro para me provar como profissional.
Tive vários mentores ao longo da minha carreira para me ajudar a superar essa necessidade de alcançar a perfeição em tudo. Eu me lembro de quando uma mentora me disse que eu não precisava falar inglês perfeitamente porque já era fluente em três línguas, enquanto a maioria dos meus colegas homens americanos dominava apenas uma – o inglês. Estava sendo muito dura comigo mesma, apesar de ter todas as qualificações. Mas como não ser, com a imensa falta de representatividade à minha volta?
Para contribuir com a diminuição desse gap de representatividade, há algum tempo comecei a prestar atenção nas contratações não só do meu time, mas também daqueles com os quais trabalho de perto, desafiando outros líderes a pensar na importância de ter uma equipe diversa e representativa. Levei dados de uma pesquisa da empresa de consultoria McKinsey que mostra que diversidade de gênero e etnia estão claramente relacionadas com mais performance e lucratividade.
Há inúmeros outros estudos que apontam que grupos diversos são mais produtivos e eficientes. Pessoas com experiências diferentes trabalhando juntas tendem a ter mais conflito. E esse conflito é saudável, porque gera feedback construtivo e faz com que os indivíduos tenham empatia e ampliem suas áreas de conhecimento. E não podemos nos esquecer de que há todo tipo de consumidor ou usuário dos nossos produtos e serviços. Não ter colegas ou colaboradores que possam trazer uma perspectiva diferente da nossa para entender o comportamento do consumidor é manter um pensamento ultrapassado e perder vantagem competitiva.
Essa estratégia vem funcionando muito bem no meu time, que é um dos mais diversos da minha organização. Temos um desempenho super satisfatório, além de muita criatividade e tino para inovação. Mas, em geral, o progresso para as questões de diversidade nas empresas está andando a passos de tartaruga. Por isso, precisamos de mais líderes que invistam verdadeiramente em entender o processo de diversidade, equidade e inclusão e de que a pauta seja focada não somente em gênero, mas também em raça. Não queremos ser guerreiras, queremos oportunidades justas para demonstrarmos a nossa liderança.